quinta-feira, 2 de julho de 2009

Cinquenta Minutos.


Ele não era pop. Ele sabia disso. Ele gostava de não ser. Ele não gostava de estar no centro. Ele não se achava muito bonito. Ele tinha olhos cor de mel. Ele era magro e usava calças legais. Ele tinha um all star e gostava dele, dentre eles, era o único que gostava. Ele não falava muito e era muito envergonhado. Ele gostava de Zeca Baleiro e ouvia mpb.

Ela era engraçadinha. Queria ser mais alta. Gostava de maçã do amor e morangos com chocolate. Era simpática. Gostava de all star, dentre elas, era a única que gostava. Usava cabelos presos e um óculos vermelho. Era magra e tinha bunda. Era concentrada e perfeccionista. Usava brincos pequenos e seus olhos ficavam mais claros quando chovia. Era autêntica. Tinha pele clara e cabelos escuros, tinha as maçãs do rosto coradas e sempre usava a sua blusa verde escura, talvez porque eram da cor de seus olhos.

Acordou, escovou os dentes, lavou o rosto, trocou seu pijama por uma das suas calças, estava sol e então pôs uma camiseta branca leve, bagunçou um pouco mais o cabelo, passou a mochila nas costas e engoliu o leite. Sentado dentro do ônibus a sua musica preferida tocava dentro dos seus tímpanos cobertos pelo seu fone. Não sabia aonde as outras pessoas iam e gostava de imaginar o que elas fariam depois de descer no ponto. Desceu. Andou por mais quinze minutos e descobriu que estava atrasado, o moço que trabalhava na loja de brinquedos do shopping (sabia que trabalhava lá, o seu uniforme o denunciava) havia lhe passado muito antes do que de costume. A senhora, que sempre estava sentada esperando outro ônibus já não estava mais ali e então ele tinha certeza de que estava atrasado. Seus passos agora não podiam ser vistos, eram rápidos demais, quase corria. Sabia que se demorasse mais não a encontraria.

Enquanto estivera no ônibus não se lembrava do quão importante era pra ele, esse momento. Ele parecia contemplar todos os movimentos alheios e se divertia com as frases dos outdoors, pra ajudar as musicas lhe faziam voar alto e esquecer tudo aquilo que lhe afligia. Ele então passava a pensar quais eram as aflições dos autores e o porquê das letras parecerem ser escritas e cifradas exatamente pra ele, como se ele fosse à peça principal dos quebra-cabeças sonoros. Ele nunca achava as respostas, porém, nunca desistia de procurá-las era a sua forma preferida de passar o tempo, além dos livros, as suas teorias eram como escudo pros pensamentos que ele não queria ter. Mais assim que os pensamentos voltaram ao lugar, ele se lembrou do quanto gostava dos primeiros cinqüenta minutos de todas as manhãs.

Como era de se esperar, os enormes portões acinzentados estavam inteiramente fechados. Os cantos dos pássaros começavam a fluir em sua mente, por mais que o trânsito atrás não parasse nunca, as buzinas atordoadas e as motocicletas ensurdecedoras, não havia mais nada que ele pudesse ouvir além do silêncio em sua própria mente. Hoje o dia não teria a mesma graça. A paz que lhe concedera todas as manhãs havia sido sequestrada. Era difícil pra ele. Mais difícil ainda era se livrar dos pensamentos que ele não queria ter! Seria um dia longo, ao invés de sorrisos dos quais ele se lembraria a tarde toda, hoje, especificamente, ele iria se lembrar do quão lento alguém podia ser. Iria se lembrar das pessoas que lhe passaram, das musicas que tocaram se lembraria até do gosto amargo que a falta dela lhe traria. Tudo que ele queria era um pouco da doçura que os olhos traziam, queria mais das suas palavras pra tirar o pouco de fôlego que lhe restava. Hoje ele não precisava que o tempo mudasse, fizesse sol ou fizesse chuva, hoje, ele não iria reparar nas mudanças de cores que a natureza concedia. Esses pensamentos eram ainda mais difíceis.

Com o sol lhe batendo no rosto e sem poder enxergar, sentiu por entre os raios uma leve brisa passar, os cantos dos pássaros se esvaíram e então um novo acontecimento mudou o seu dia. O sorriso tomou conta, a sua perna bambeou, o coração bateu no primeiro instante, depois era como se tivesse parado, não havia sinal vital, mais havia borboletas em seu estomago, a certeza de que ainda estava vivo. Uma porta se bateu, ele podia ouvir alguns passos e eram passos inconfundíveis pra ele. Era como uma nova musica e essa sim, cifrada especificamente pra ele e talvez por ele mesmo.

Era ela, Sofia, linda, como em todas as manhãs que nesse momento, conseguia lembrar. Ela não estava com o sorriso preferido dele, ele não via as covinhas das bochechas e nem o formato que o seu rosto fazia todas as vezes que ela estava feliz, sorrindo. Mas ela estava lá. E isso era só o começo.

- Seria apenas coincidência ou o destino que soprava a favor de Erick?

7 comentários:

Larissa Stracci disse...

aah, que foda!
Quero mto ler a continuação!!

Você escreve lindamente gata, te amo!

C disse...

AAAAAAAAAAAAAAAAH QUANDO VAI SER O PRÓXIMO CAPÍTULO?

disse...

ai, tá muito lindo.

QUAAANDO VAI SER O PRÓXIMO CAPITULOOO? :)

C disse...

Gostei da mudança de nome.

. disse...

Eu gostei muito, Lizi. Adorei como você apresentou os personagens e eu adorei a parte que ele percebe que esta atrasado por causa das pessoas na rua, porque eu faço exatamente isso. HAHAHA :)

má straci disse...

UHASUHAHUS
repetindo o que a pati disse, eu adorei quando ele percebe que está atrasado.
adorei ver como vc escreve bem, meu amor.


ah, quero logo a continuação!

disse...

Noossa, você escreve muito bem!
Adorei a história.. vou voltar pra ver a continuação :D

Tô te seguindo também ;)

Beeijo ;**